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Um ano das enchentes de Hidrolândia: moradores relembram a catástrofe e o que mudou por lá após o episódio

   Quinta-Feira 25 Março 2021


No imaginário dos hidrolandenses, o dia 25 de março de 2020 jamais será esquecido. Horas ininterruptas de chuva em todo o município provocaram o rompimento de 13 açudes na zona rural e toda a água saiu levando o que tinha pela frente. Casas inundadas, barragens arrombadas, plantações e estradas destruídas e muitos prejuízos. Quase metade da população foi atingida de uma maneira ou outra com os estragos provocados pela enchente.

A época, 450 pessoas não mais voltaram para as suas casas e 120 ficaram desabrigados, sob o amparo da Prefeitura Municipal, que acolheu a solidariedade de todo o estado do Ceará e até de fora, com dezenas de doações recebidas em alimentos, móveis, eletrodomésticos, itens do lar e outros utensílios. Um ano depois da tragédia, o episódio ainda se faz bastante presente na memória de quem passou pelo sufoco, de salvar a sua vida e tentar salvar alguns bens, enquanto a água invadia os prédios.

Reveja reportagem


Claudeny de Farias, morador do Centro
 Aquela madrugada foi muito espantosa. De início eu escutei uns gritos “socorro”, quando coloquei a cabeça na janela, que eu olhei a água na rua... Uma coisa quase inacreditável, eu nunca tinha visto um negócio desse, nunca tinha acontecido. Pela destruição que a gente viu, pela lógica, se tivesse morrido muita gente não era de se admirar, pelo estrago, mas Deus é maravilhoso. 

Neguinha Manicure, moradora do Progresso 
 Quando a gente viu já estava tudo boiando dentro de casa. Até o Davizinho que estava dormindo na hora, já estava em cima da cama em momento de desespero. Marcou muito... A gente não sabe nem o que dizer, porque quando olha e tem perdido tudo e diz assim ‘a gente não consegue mais’, mas graças a Deus e aos amigos que a gente tem, conseguimos. Mas eu estou me levantando, a gente tem que ter fé. 

Dona Maria, moradora da Vila Freitas
 E o meu filho chamou ‘mamãe, acorda, tem água dentro de casa’, quando eu acordei e pisei, já foi dentro da água. 


Zezinho Farias, morador do Centro 
 Foi um desespero. Não esperava, foi uma coisa repentina. Meu menino acordou com o cachorro e quando chegamos no portão, não deu mais para gente sair. Tivemos que subir em cima da marquise da casa para conseguir escapar. De 1h20 até às 5h, nós trepados ali, com chuva, relâmpago e trovão. Mas a gente tem que ter fé em Deus.  

Patrícia Timbó, moradora do Progresso
 O mais desesperado nessa parte para mim, era que a água ia chegar na minha loja. Ali era tudo o que eu tinha, minha sobrevivência, meu ganha pão. A gente juntou várias roupas e eu “meu jesus, o que eu vou fazer?”, mas naquele momento eu me ajoelhei e orei porque era pela fé. Naquele momento que eu vi que não ia ter outra expectativa, a não ser buscar em Deus, eu me ajoelhei naquele momento e ali eu consegui ter uma interação com Deus porque eu vir o agir dele. 

Magda Rodrigues, moradora da Vila Freitas
 Nós conseguimos subir para a casa de cima e nisso começou o destroco com mais força. A água foi chegando mais forte, a correnteza muito forte e muito extensa e nisso a gente ficou naquele desespero, naquela loucura. A gente não sabia o que iria acontecer, se a gente sairia vivo porque realmente foi muito desesperador. O maior medo era porque diante daquela circunstância, a gente via descendo animais, móveis, as casas caindo e a gente ‘meu deus, essa casa vai aguentar?’, ‘será que todo mundo que está aqui em cima vai sair com vida?’ 

Gerusa Bezerra, moradora da Vila Freitas 
 “O mais incrível é que a agua não entrou lá em casa, me arrepio todinha quando falo disso. Meu marido disso ‘não da mais pra gente sair, vamos ficar aqui’ e eu perguntei ‘e ai? Se a água subir o que vamos fazer?’. Eu olhei paro meu filho dormindo, me ajoelhei ali na frente da cama e lembro que rezei a salve rainha. 


O rastro de destruição deixado pela enchente ainda é visível na cidade de Hidrolândia. Na ponte do Rio Batoque, apesar do calçamento ter sido reconstruído, uma casa que ficou praticamente destruída se junta aos escombros do que fora arrastado e que se encontra no leito.

Do outro lado, na Vila Freitas, outra área que ficou bastante arrasada, a Prefeitura iniciou a obra do canal, todavia ainda não conseguiu realizar a limpeza e o desassoreamento do Batoque. Por não dispor de recursos próprios suficientes, a prefeita Iris Martins assegurou ao A Voz de Santa Quitéria que já tem o dinheiro empenhado através de emenda e que o projeto está sendo preparado, para "tranquilizar as famílias hidrolandenses".


A superação da cidade só não foi completa, dado que infelizmente uma idosa de 80 anos, cadeirante, que se afogou e teve dificuldades para ser resgatada, faleceu quatro dias depois, após ter ingerido muita água e em consequência disso, teve um quadro de pneumonia por aspiração. 

As famílias que perderam seus lares tiveram um alento no mês passado, com os primeiros passos dados para a construção de 51 novas residências, orçado num valor total de R$ 3,6 milhões.

Um ano depois do episódio, Iris afirmou que "mesmo diante das perdas materiais, dos inúmeros estragos que a enchente deixou, agradece pelas vidas que o Senhor preservou e que estão aqui pra contar a história".

Onde os açudes arrombaram, como Salgado e Batoque, as chuvas no fatídico dia superaram os 300 milímetros, algo jamais presenciado nos 63 anos de história. Até o momento, conforme dados da Funceme, já choveram neste mês de março, cerca de 140 milímetros.




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