
A transmissão do vírus pelo pernilongo tem sido uma das hipóteses levantadas para explicar o rápido alastramento da zika no mundo. Mas no novo estudo, publicado nesta terça-feira, 6, na revista científica Plos Neglected Tropical Diseases, os cientistas analisaram mosquitos Culex coletados no Rio e infectados em laboratório e concluíram que eles não continham partículas infectantes do vírus.
De acordo com os autores do artigo, a conclusão do estudo é importante para que as políticas públicas de combate ao zika sejam focadas no controle do Aedes aegypti, cuja capacidade de transmitir o vírus é comprovadamente alta. Segundo o coordenador da pesquisa, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, “o Aedes é o único inimigo comprovado como transmissor do vírus zika”.
“Não encontramos nenhuma evidência de que o Culex transmite o vírus da zika. Esses resultados reforçam as conclusões de diversos estudos feitos em outros lugares do Brasil e do mundo. Isso significa que temos de focar no Aedes. Seria um desserviço para o combate à epidemia se gastássemos os escassos recursos disponíveis para combater um mosquito que não transmite o zika”, disse Lourenço à reportagem.
Segundo ele, os estudos foram feitos entre janeiro e maio. Os ovos e larvas dos pernilongos foram coletados nos bairros de Copacabana, Jacarepaguá, Manguinhos e Triagem. Os insetos se tornaram adultos e foram alimentados com sangue infectado de duas linhagens do zika encontradas no Rio. Os pernilongos tiveram o corpo, a cabeça e a saliva analisados em diferentes períodos, de uma a três semanas após a infecção.
As taxas de infecção foram mínimas ou completamente ausentes em diferentes combinações de linhagens de vírus e populações de pernilongos. Segundo Lourenço, a metodologia usada no estudo torna as conclusões robustas.
“Fizemos o estudo com quatro populações diferentes de mosquitos e utilizamos dois vírus de linhagens diferentes. Além disso, usamos vírus e mosquitos do Rio, que circulavam na mesma época. Usamos vírus isolados a partir de uma mulher, de um homem, de saliva e de urina. Em nenhum caso houve evidência de infecção”, explicou Lourenço.
De acordo com ele, o estudo também avaliou mosquitos Aedes aegypti, como controle. “No caso do Aedes, o porcentual de mosquitos que apresentaram o vírus na saliva chegou próximo de 90%. Já no caso do Culex, a porcentagem foi zero”, afirmou.
Recife
Um estudo publicado em julho por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco detectou a presença do zika nas glândulas salivares de mosquitos Culex coletados no Recife – o que levou o grupo à conclusão de que o pernilongo é, sim, capaz de transmitir o zika.
Lourenço afirma que não conhece o estudo do Recife de forma aprofundada, mas atribui a diferença das conclusões às distintas metodologias empregadas. Uma possibilidade, segundo ele, é que os mosquitos Culex encontrados com o vírus zika no Recife tenham sido contaminados depois de se alimentarem do sangue de uma pessoa infectada. “Na Itália, nos Estados Unidos, na França, no México e no Brasil há pelo menos mais cinco estudos independentes que chegaram a resultados semelhantes aos nossos, concluindo que o Culex não transmite o zika, mas o Aedes tem grande capacidade de transmissão”, afirmou Lourenço. A coordenadora do estudo no Recife, Constância Ayres, não foi encontrada pela reportagem.
Estadão Conteúdo
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